AMBIENTE, CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Lilia Aparecida Kanan, Jaime Farias Dresch

Resumo


Trata-se de uma revisão narrativa, não sistemática, que pretendeu dar visibilidade às discussões acerca do ambiente, das condições de trabalho e a saúde de professores da Educação Básica. O estudo encontra justificativas no fato de que há, no Brasil, 2,2 milhões destes profissionais neste nível da educação. Como resultados, encontra-se evidências de adoecimento junto à categoria, uma vez que é farta a literatura que versa sobre os transtornos físicos (de voz, musculoesqueléticos e problemas cardiológicos) que os acometem, bem como mentais e comportamentais (insônia, depressão, neuroses do trabalho, fadiga psicológica, estresse e Síndrome de Burnout). Os estudos que integraram a análise possibilitam destacar que o bem-estar no trabalho destes profissionais influencia seu desempenho, bem como a importância da prevenção e erradicação de sentimentos e condições ambientais nocivas que possam causar prejuízos físicos e emocionais aos mesmos. Restou evidente que o ambiente e as condições de trabalho dos professores da Educação Básica determinam o bem-estar (ou o oposto) em seu trabalho. Foi possível constatar ainda, que ao longo dos últimos anos ocorreu a intensificação e precarização das condições de trabalho desses profissionais com evidentes prejuízos sobre a saúde e, num contexto ampliado, sobre sua vida. Ainda que se encontre significativa quantidade de estudos a respeito do tema abordado, neles não se observam sugestões já concretizadas ou relatos de intervenções adotadas para eliminar ou minimizar as condições adoecedoras que muito têm afastado os professores das salas de aula. Na prática, quase nada consta nestes estudos que atestem a melhoria das condições de trabalho, de saúde e de bem-estar dos professores.


Palavras-chave


ambiente de trabalho docente, condições de trabalho docente, bem-estar laboral de professores, adoecimento de professores, Educação Básica.

Texto completo:

PDF

Referências


BARRETO, R. G.; LEHER, R. Trabalho docente e as reformas neoliberais. Reformas educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica, p. 39-60, 2003.

BARROS, A. V. Trabalho docente na educação básica na rede municipal de ensino em Belém. 102 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.

BERNARDO, W. M.; NOBRE, M. R. C.; JATENE, F. B. A prática clinica baseada em evidências. Parte II: buscando as evidências em fontes de informação. Rev Assoc Med Bras. v. 50. n. 1. p. 1-9. 2004.

BRUM G. Brasil tem 2,5 milhões de professores, a maioria está no ensino básico. Agência Brasil. Brasília. 2021.

CARLOTTO, M. S.; CÂMARA, S. G. Prevalence and risk factors of common mental disorders among teachers. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, v. 31. n. 3. p. 201-206 2015.

CODO, W. Educação: carinho e trabalho. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

CORTEZ, P. A.; SOUZA, M. V. R.; AMARAL, L. O.; SILVA, L. C. A. A saúde docente no trabalho: apontamentos a partir da literatura recente. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 113-122, 2017.

CRISTALDO. H. Censo Escolar: mais de 650 mil crianças saíram da escola em três anos. Agência Brasil. Brasília. 2022.

CRUZ, R. M. et al. Saúde docente, condições e carga de trabalho. Revista Electrónica de Investigación y Docencia (REID), 4, Julio, 2010, 147-160.

FAGIANI, C. C. Brasil e Portugal: qual a formação do jovem trabalhador no século XXI? Uberlândia: Navegando, 2018.

GASPARINI, S. M.; BARRETO, S. M.; ASSUNÇÃO, A. A. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 189-199, maio/ago. 2005.

MOURA, J. S.; RIBEIRO, J. C. O. A.; CASTRO NETA, A. A.; NUNES, C. P. A precarização do trabalho docente e o adoecimento mental no contexto neoliberal. Revista Profissão Docente, v.19. n.40, p.01–17. 2019.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO-OIT. Decent work and poverty reduction in the global economy. Second Session of the Preparatory Committee for the Special Session of the General Assembly on the Implementation of the Outcome of the World Summit for Social Development and Further Initiatives. 2000.

OLIVEIRA, D. A. Condições de trabalho docente e a defesa da escola pública: fragilidades evidenciadas pela pandemia. Revista USP, n. 127, p. 27-40, 2020.

OLIVEIRA, D. A.; ASSUNÇÃO, A. A. Condição do trabalho docente: uma análise a partir das demandas dos trabalhadores. In: BERTUSSI, G. T.; OURIQUES, N. (coord.). Anuário educativo brasileiro: visão retrospectiva. São Paulo, Cortez, 2011.

PASCHOAL, T. TAMAYO, A. Construção e validação da escala de bem-estar no trabalho. Avaliação psicológica, v. 7, n. 1, p. 11-22. 2008.

PREVITALI, F. S.; FAGIANI, C.C. Trabalho docente na educação básica no Brasil sob indústria 4.0. Revista Katálysis, v. 25, p. 156-165, 2022.

RESENDE, R. Maior parte dos professores do Brasil já pediu afastamento por motivo de saúde. Senado. Brasília. 2019.

ROTHER, E.T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Editorial. Acta Paulista de Enfermagem. v. 20. n. 2. 2007.

SILVA, A. M. Formas e tendências de precarização do trabalho docente: o precariado professoral e o professorado estável-formal nas redes públicas brasileiras. Curitiba: CRV, 2020.

SILVA, J. P.; FISCHER, F. M. O perfil das publicações sobre condições de trabalho e saúde dos professores: um aporte para (re) pensar a literatura. Saúde e Sociedade, v. 30, 2021.

TEIXEIRA, L. H. G. Políticas públicas de educação e mudança nas escolas: um estudo da cultura escolar. In: OLIVEIRA, D. A.; DUARTE, M. R. T. (org.) Política e trabalho na escola: administração dos sistemas de educação básica. 2. ed., Belo Horizonte, 2001, p. 177-190.

TIGHT, M. Mass higher education and massification. Higher Education Policy, v. 32. p.93-108. 2019.

TREVISAN, K. R. R. et al. Revisão sistemática internacional sobre agravos à saúde mental de professores. Av. Psicol. Latinoam., Bogotá , v. 40, n. 1, p. 18-32. 2022.

VEDOVATO, T. G.; MONTEIRO, M. I. Perfil sociodemográfico e condições de saúde e trabalho dos professores de nove escolas estaduais paulistas. Escola de Enfermagem, São Paulo, v. 42, n. 2, p. 290-297, 2008.

WARR, P. B. Work, happiness and unhappiness. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates. 2007.